Feminismo

Manu ELA

Presenciamos mais um triste capítulo da misoginia, sim do ódio as mulheres, contra a Manu, e mais uma vez atingiu sua filha, uma menina de 05 anos.

Por Tainara Hanke

Era uma noite fria e chuvosa de setembro, e eu acabava de sair da faculdade de educação da UPF, quando recebi um panfleto cor-de-rosa vibrante, estampado por um avatar de uma moça, e no cabeçario estava escrito: Manu ELA. O ano era 2005, e ela estava concorrendo a uma vaga na câmara dos deputados a nível federal, suas pautas falavam de educação, de juventude, de cultura, e ela ganhou meu voto. Imagina como me senti ao ver que uma garota como eu, ocupava alto cargo político em âmbito nacional? Conheci e acabei aderindo ao movimento estudantil, porque através da Manu vi que a política também era para jovens sonhadoras eu. Talvez por sermos da mesma geração, sempre me identifiquei com as fases de vida da Manu, e sempre senti por ela um carinho daqueles que a gente só desenvolve por amigas de longa data.

Minha aproximação com movimento feminista, me fez ter ainda mais empatia por ela, somos mulheres, imersas uma sociedade misógina e patriarcal, ocupando lugares no meio político. Talvez muitos ainda não tenham parado para pensar como o contexto político é hostil as mulheres. Partindo do pressuposto que o as opressões de gênero, raça e classe são as estruturas que mantém o capitalismo, é compreensível que ao restringir a participação política das mulheres em todos os contextos, garante que este sistema de opressões continue a funcionar, e que os que se beneficiam por ele continuem a lutar pela sua manutenção.

As mulheres são a maioria nas associações paroquiais, nas organizações religiosas, e nas organizações não governamentais, são a maioria nas associações comunitárias e nos conselhos de pais e professores, também são as que mais acessam as políticas de saúde, assistência social, e habitação. As mulheres possuem uma ampla participação nos conselhos municipais de direitos e tem origem nas mulheres muitos movimentos sociais, por exemplo a campanha “ELE NÃO” no ano de 2018.

Apesar de todo potencial de articulação política, disponibilidade e conhecimento das demandas e lutas sociais, a participação das mulheres em cargos eletivos no processo eleitoral nacional é muito pequena. Vários fatores são usados para cercear a participação política das mulheres, desde o acúmulo de tarefas domésticas e a maternidade compulsória, até a violência verbal, psicológica e física. Na prática vemos que os partidos políticos cooptam líderes mulheres para cumprir suas cotas partidárias, e que estas são silenciadas, menosprezadas e usadas pelos “comandantes” do clã das siglas.

No ano de 2020 conversamos sobre uma possível candidatura minha para vereadora na minha cidade, meu marido na hora me disse “sou contrário, não quero que as pessoas te maltratem, não me casei com a Manuela d’Ávila, nem com a Marielle Franco”, apesar de saber como ele admira estas duas mulheres sei que sua preocupação está pautada em situações reais e possíveis. Há dois anos nos perguntamos “quem mandou matar Marielle?’’ e há anos assistimos uma violência sistemática contra a Manu, me pergunto até quando ela aguentará. Diariamente assistimos um espetáculo de misoginia que obriga a mulheres trans a andarem com escolta, que faz com que vereadoras, deputadas, prefeitas, senadoras, governadoras sejam atacadas cada vez que se posicionam contrárias aos interesses do patriarcado, me pergunto quem um dia conseguirá esquecer o que a presidente Dilma suportou/suporta?

Esta semana presenciamos mais um triste capítulo da misoginia, sim do ódio as mulheres, contra a Manu, e mais uma vez atingiu sua filha, uma menina de 05 anos. Laura nasceu no pior país para se nascer mulher na América Latina, onde 137 mulheres morrem por dia apenas por serem mulheres, e que ocupa a 112º no ranking de participação política feminina (relatório das nações unidas 2017). Manuela sempre relatou os inúmeros ataques que ela e sua família sofrem, sendo o mais recente contra Laura, que foi fotografada sem consentimento, no ambiente escolar, teve sua imagem espalhada por grupos bolsonaristas e como ato final, foi ameaçada de estupro por aqueles que se dizem defensores da família, da moral e dos bons costumes.

Ao ler esta notícia, senti muita indignação e muita raiva. Sim, raiva. É inadmissível que ainda tenhamos que presenciar este tipo de violência, e me pergunto cadê a indignação da sociedade que     lutou tanto pela merecida justiça nos casos do menino Henry e da Isabella Nardoni, e tantos outros.   Ao nascer filha de Manuela d’Ávila é como se Laurinha não tivesse o direito de ter sua integridade protegida, somo se não tivesse acesso a ter humanidade, herdando um ódio irracional e bárbaro que tem cúmplice a sociedade brasileira como um todo.

Me pergunto onde estão os aparelhos legais para defender Laura? Onde estão os homens ditos “progressistas” que subiram no palanque junto com a Manuela nos pleitos eleitorais que não denunciando e lutando contra este martírio que ela tem vivido? Onde estão as mulheres que se levantaram no caso Mariana Ferrer, mas que se calam diante do disparato sofrido por nossa camarada? Dizia a “filósofa” Juliette Freire, que quanto mais forte somos, menos carinho recebemos, não deixo pensar a verdade desta frase, banalizamos a violência contra nossas camaradas porque sabemos da sua força, mas nos esquecemos que ninguém consegue ser forte o tempo todo.

Espero que este texto chegue até você Manu, junto com o abraço e o carinho de todas as mulheres do Coletivo Alicerce do PSOL, que você e a Laurinha se sintam acolhidas e saibam que não estão sozinhas, vocês duas tem a nós e nós todas temos a Manu ElaS.