Fora Bolsonaro

Punir Pazuello e derrubar Bolsonaro

O ato bolsonarista de 23 de maio, no Rio de Janeiro, novamente põe em xeque os limites do regime. Se for complacente com o general, o comando do exército se mostrará subserviente aos desmandos do presidente, e abrirá precedente para outros casos de indisciplina.

Por Daniel Emmanuel

Como dizem, desgraça pouca é bobagem. E parece que a quantidade de desgraças que se multiplicam nunca é o sufciente para Bolsonaro. Não bastassem os mais de 450 mil mortes por COVID, a falta de vacinas e de medicamentos, e o crescimento desenfreado do desemprego e da fome, agora Bolsonaro resolveu testar, mais uma vez, os limites das instituições da República, em especial das Forças Armadas.

No último domingo, 23 de maio, o presidente genocida promoveu mais uma manifestação no Rio de Janeiro, que mobilizou um séquito para demonstrar apoio ao seu governo criminoso e tentar retomar fôlego para a reeleição. Na fala que fez em cima de um caminhão, Bolsonaro voltou a condenar as medidas de isolamento social e a incitar a insubordinação de militares.

Até aí, nada de novo. Afinal, este tipo de manifestação já virou rotina toda vez que Bolsonaro se sente enfraquecido e encurralado, como acontece agora por causa da CPI e dos casos de corrupção que começam a brotar no seu governo. A novidade ficou por conta da participação, no ato, do general Pazuello, o ex-ministro da Saúde que, conforme todas as investigações tem apontado, foi um dos principais responsáveis pela tragédia no Amazonas e pela falta de vacinas.

Mas o absurdo não é este, até porque, Pazuello compartilha a responsabilidade por estas tragédias com Bolsonaro. O absurdo é ter um general da ativa participando de uma manifestação política, o que fere o regulamento disciplinar do exército, e fez isso a convite do chefe do executivo, que, desta forma, chancelou a indisciplina do militar.

É preciso lembrar que a proibição de militares participarem de manifestação política é um dos grandes avanços do processo de redemocratização. A medida visa coibir a vinculação de quadros das forças armadas com o governo de plantão, algo que já foi comum no Brasil, não só durante o regime militar, mas em praticamente toda a sua história.

Porém, a negação e o combate a este princípio basilar da Nova República tem sido uma das características marcantes durante o governo Bolsonaro, como denunciou recentemente o ex-presidente do Superior Tribunal Militar, tenente-brigadeiro Sérgio Xavier Ferolla. A militarização do aparelho do Estado fica evidente não só pela preferência em alocar militares nos ministérios e cargos no alto escalão do governo, mas também em funções operacionais, como ocorre no INSS.

A presença de Pazuello no ato bolsonarista do Rio é mais uma batalha nesta cruzada. O objetivo é criar uma espécie de dilema de Shylock: se o comando do exército for na direção de punir Pazuello por indisciplina, Bolsonaro usará o discurso de que há um complô para usurpar o seu poder de chefe das forças armadas; se não punir, o comando do exército se mostrará subserviente ao desejo presidente, e abrirá precedente para outros casos de indisciplina militar.

É um jogo perigoso e não existe saída fácil ou mediada. Qualquer caminho que for escolhido causará mais pressão e instabilidade nas forças armadas. Portanto, o único caminho aceitável é o combate firme a esta manobra. A punição contra Pazuello deve ser severa e exemplar, não apenas na esfera disciplinar, pela sua participação dos atos no Rio, mas também pelos crimes que cometeu quando esteve à frente do Ministério da Saúde.

Mas não basta punir exemplarmente Pazuello e deixar o seu chefe com as mãos livres para continuar destruindo o nosso país. Cada vez se torna mais urgente e necessário derrubar Bolsonaro, principal responsável pelas desgraças que assolam o Brasil e os brasileiros. E argumentos para isso não faltam, desde o descaso com a pandemia, a falta de vacinas, os atos contra as instituições do regime, e agora, mais recentemente, a compra de apoio parlamentar através do chamado “tratoraço”.

Derrubar Bolsonaro e o bolsonarismo é a tarefa mais urgente, o primeiro ato na luta em defesa da democracia. Não de uma democracia formal, cujo único direito é votar em qual governo será o algoz do povo durante os próximos quatro anos. Mas uma democracia verdadeira, que seja capaz de resolver o problema da fome, da violência contra as parcelas oprimidas, e garanta a todos acesso a emprego digno, saúde, educação, previdência.

Será uma árdua batalha. Mas uma batalha necessária, pois nosso futuro depende dela. Os atos que estão sendo organizados para este dia 29 de maio, pelo Fora Bolsonaro, podem se tornar o primeiro episódio dessa reorganização do povo. É chegada a hora de irmos à luta.