
Por Tainara Hanke
Não, este não é um texto que incita ódio aos homens. Este texto é, na verdade, uma reflexão sobre os amores e aversões que instigamos em nossa sociedade. Li a frase acima, há uns vinte dias, em um post do Instagram, confesso que nem me recordo em que página, mas a ideia central da afirmação não saiu da minha cabeça até os dias de hoje.
Há um tempo tenho pensado na misoginia expressa na sociedade. Sobre seu conceito, conforme o site Politize*, temos que: “A misoginia é um sentimento de aversão patológico pelo feminino, que se traduz em uma prática comportamental machista, cujas opiniões e atitudes visam o estabelecimento e a manutenção das desigualdades e da hierarquia entre os gêneros, corroborando a crença de superioridade do poder e da figura masculina pregada pelo machismo”.
Quase tudo que é ligado ao feminino e a mulheres soa de forma pejorativa, por exemplo: o maior xingamento ao homem é chamá-lo de “mulherzinha”. Homens odeiam pelos de mulher, sangue de mulher, choro de mulher, conversa de mulher, filmes de mulher, livros de mulher, comida de mulher e bebida de mulher. Homens também odeiam: carros de mulher, programas de mulher, trabalho de mulher, esportes de mulher, e até mesmo o “jeito” de mulher.
Assim, só me resta acreditar que há essa cultura social masculina de ódio as mulheres chamadas de misoginia, refletida no sexismo, essa ideia de que um gênero é superior ao outro, e no machismo, expressão, em ideias e atitudes, dos preconceitos ao feminino.
Quando pensamos na questão das violências contra as mulheres, vemos a misoginia ainda mais escancarada. Os homens violentam psicologicamente as mulheres, as estupram, as humilham, as machucam fisicamente, usando de modos cruéis para torturá-las, e as matam de formas tão perversas que jamais teriam coragem de fazer com outros homens.
É pertinente questionar, de onde vem este ódio todo. Para refrescar a memória, ainda na Grécia antiga, berço da civilização ocidental, via-se uma sociedade patriarcal que segregava o feminino e o legava um papel secundário na nossa história. Apoiados nesse pensamento filosófico e cultural arcaico, os homens, através da violência, construíram uma sociedade centrada no poder masculino, para a valorização dos seus desejos e interesses.
Por que este ódio ainda se sustenta nos dias de hoje? Primeiro, porque ainda não superamos essas ideologias políticas e religiosas milenares e suas crenças na superioridade masculina. Segundo, porque somos levadas e levados a competir por trabalho, por salário, por casa, numa sociedade que não garante igualdade de condições, e nessa forma de organização social, os mais oprimidos, para sobreviver, submetem-se, e quem segrega, oprime e explora, ganha mais dinheiro e poder. Terceiro, porque continuamos a ensinar aos meninos a amarem muitas coisas como: carros, esportes, ciências, literatura e outros, mas continuamos a ensinar as meninas a amarem apenas uma coisa: o homem, alimentando este universo centrado no masculino.
E para superar o ódio machista, temos o feminismo. Mas os homens temem o feminismo. Temem porque acreditam ingenuamente que, em uma revolução feminista, as mulheres imporão vingança, e vão tratá-los como sempre foram tratadas: com ódio. Mas quem pensa assim, está muito enganado. O feminismo é um movimento que visa o fim da opressão sexista, racista e, na sua raiz, classista. O feminismo afronta a ideia de que há pessoas melhores e outras piores, ou seja, contrapõem a ideia de que uns nasceram para dominar e outros para serem dominados.
Talvez esta revolução feminista comece por uma nova forma de AMAR. Vamos abrir os horizontes dos nossos sentimentos, ensinando as meninas que existem muitas outras coisas e pessoas que devem e podem ser amadas, sobretudo elas mesmas, e, também, fomentar os meninos a amarem as mulheres em sua integralidade – seus corpos, seus sentimentos, suas performances.
Parece simples, mas é extremamente desafiador, em especial neste momento em que a polarização e o ódio andam tão em evidência. Também parece utópica uma revolução através de novas formas de amar. Mas não são, o amor e a paixão, pilares para toda luta? Sim, mas este é tema para um novo texto.
Post scriptum
Finalizei o texto e li para meu marido. Ele me disse que concorda com as minhas ideias, mas que não se enquadra em todas, além de achar que coloco todos os homens em um mesmo bojo. Senti a necessidade de lembrá-lo que sim, nem todos os homens violentam suas companheiras, mas, também, é verdade que, nos inúmeros casos de violência de gênero, são os homens, majoritariamente, que assassinam e torturam. O certo é que há homens misóginos, e homens misóginos em desconstrução.
* Misoginia: você sabe o que é?. (www.politize.com.br/misoginia/).
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