Por Tainara Hanke
Quando em uma conversa de família sobre filhos e maternidade, e eu falei a palavra INFERTILIDADE meu irmão na mesma hora me corrigiu e disse que eu estava atraindo negatividade, ao me declarar infértil. De fato, a infertilidade feminina é um Tabu, pois no inconsciente coletivo, mulheres inférteis são amargas, mal-humoradas, invejosas e odeiam crianças, estas mulheres também são consideradas “secas” e sem vida.
Na vida real as mulheres inférteis são solitárias. É difícil compartilhar um assunto que é ainda muito velado e estigmatizado, e é quase impossível achar espaço e abraço em um mundo que celebra apenas a fecundidade, o sucesso, a performasse, e onde se estabeleceu o ideal de feminilidade ligado a maternidade, a fragilidade, e a beleza.
É complicado ser acolhida em uma sociedade que acha que nós mulheres somos apenas peito e útero. Peito e vagina para os homens consumirem através da pornografia e da prostituição, ou peito e útero para gerar e parir filhos anos homens, bem como repor trabalhadores a esta grande engrenagem social em que vivemos. E quando este útero e estes peitos não “cumprem” seu papel natural e social, como lidamos com a nossa identidade feminina?
Lembro de uma vez, ao fazer o exame nas minhas mamas, a ginecologista me disse que eu tinha “ótimos seios para amamentar”. Aí de mim que sempre dei importância a eles mais por serem erógenos do que por serem feitos para amamentar uma criança! Explicitado nesta passagem está um apanhado de coisas, mas que deixam claro o que se espera de nós mulheres: a maternidade.
Como se todo o corpo feminino fosse feito para gerar. Há 02 anos venho em uma verdadeira via-sacra de médicos, de exames e de expectativas. Tratamentos que não deram certo, desgaste físico, mental e financeiro. Tudo isso sem ter espaço fora da terapia para falar sobre o tema. Vacilando entre o sentimento de fracasso e o questionamento se realmente filhos são importantes para mim, ou são apenas mais uma convenção social.
Quando me arrisco falar sobre o tema, eu recebo o olhar de pena das pessoas e o velho discurso ” quando você desistir de tentar você consegue”, ou ” você não engravida por causa da tua cabeça”, ou ainda “você pensa demais”, discursos que me responsabilizam inteiramente pelo meu “fracasso” biológico. Junto com os discursos vem vários tipos de soluções, que vão desde chás e meditação, até orações e vitaminas, e nem adianta argumentar o que os exames indicam, pois nega-se a verdade de que nem todas as mulheres estão biologicamente e psicologicamente dispostas a serem mães.
Devido a isso sigo minha jornada sozinha e penso quantas mulheres estão passando por isso também? O mundo precisar aceitar que mulheres inférteis existem! Mulheres inférteis não são “coitadinhas” nem disfuncionais, são mulheres integrais e possuem outros sonhos além de serem mães. Eu não me ressinto por não engravidar, diferente do que muitos pensam, e nem tenho pavor de criança, nem me sinto menos mulher e de modo algum me sinto frustrada.
Sei que sou mais que útero e peito, que meu legado, assim como de todas as mulheres, é maior do a que a maternidade, e que minha felicidade não pode estar em algo que não tenho controle, como a capacidade de engravidar. E para a surpresa de muitos: sou extremamente feliz sem filhos, e se eles vierem vou continuar sendo.
Não é justo continuarmos fingindo que infertilidade não existe; não é justo idealizar a vida das mulheres em uma maternidade compulsória. Não é justo a pena, as cobranças, e as expectativas em cima da nossa fecundidade, pelo simples fato que isso não está sobre o controle de nenhuma mulher. Há muitas mulheres que não desejam ser mães, e não devem ser julgadas por isso.
Assim como há muitas mulheres que nunca conseguirão engravidar por inúmeros motivos, e merecem todo respeito, acolhimento e empatia. A maternidade não é o grande ideal da existência feminina. Para as mulheres que são mães penso: que jornada linda! Que potência incrível e plural somos nós mulheres, algumas mães, outras tias, outras madrinhas, e todas nós mulheres.