Por Clodoaldo Macedo
No sábado passado, tivemos um primeiro de maio totalmente atípico, mas que demostra bem o momento histórico difícil e confuso que vivemos. Ao invés de vermos nas ruas, grandes manifestações de trabalhadores, com suas bandeiras e faixas, e escutarmos suas palavras de ordem, o que vimos foram algumas manifestações da extrema direita em apoio ao seu governo genocida e clamando por intervenção militar.
O pano de fundo desse quadro surreal é a pandemia, que impede que o povo exponha sua revolta e suas reinvindicações da forma habitual. Mas há outras nuances aí, que é bom observarmos com mais cuidado.
A primeira é que as manifestações da extrema direita demostram mais desespero do Governo do que sua força. Assustado com a CPI da Covid no Senado, Bolsonaro mobilizou a sua base para atacar a “democracia”, e aproveita para fazer isso no dia mais significativo para a classe trabalhadora e para a esquerda. Ou seja, mesmo num momento aparentemente menos favorável, o Governo Bolsonaro radicaliza, ocupa o campo e parte para o ataque contra as forças sociais capazes de barrar seus planos golpistas.
Enquanto isso, o auge da luta dos trabalhadores na sua data mais importante, foi o ato virtual das principais centrais sindicais do país, transmitido pela TVT, importante canal de comunicação cutista e petista, onde pudemos acompanhar os discursos de Boulos, Dilma, Ciro e Lula. Até o FHC esteve presente.
Nesse ato das centrais, Boulos, o autoproclamado pré-candidato a governador de SP pelo PSOL e já apoiador da candidatura de Lula para presidente, defendeu que: “precisamos unir todas as forças progressistas para garantir vacinação, fortalecer o SUS e garantir o retorno dos R$600,00 de abono emergencial”. Já Dilma, eximindo-se de qualquer culpa, falou que: “toda a precariedade no Trabalho é culpa das reformas trabalhistas do Governo Temer”. O Ciro, outro velho conhecido na política, vai na mesma linha e não assume a paternidade. Diz ele: “só entenderemos nossa tragédia, (o Bolsonaro), se entendermos o caminho que nos fez chegar até aqui”. Já o Lula, líder máximo da esquerda e no alto de sua popularidade, vai num caminho mais eleitoreiro, depositando todas suas esperanças na “força do povo brasileiro”, mas, num “deixa que eu chuto”, emenda que: “já comprovamos que existe um outro jeito de governar”, que também não foi com o povão.
Cada um no seu quadrado, respondendo aos seus interesses eleitorais, apresentaram discursos tão generalistas, que até podemos concordar com todos eles. Defenderam a unidade para derrotar Bolsonaro, mas tenhamos paciência e esperemos pelas eleições de 2022, enquanto morremos aos milhares da Covid, enfrentando todos os tipos de dificuldades por conta do desemprego e da precariedade gerada pelas novas relações de trabalho. Parece que única coisa que nos resta é essa rasa “democracia” dos ricos, com cada vez menos direitos, com o SUS e a Educação perdendo verbas para as emendas parlamentares, e onde até a nossa Água e Saneamento Básico são vendidos na Bolsa de Valores.
É urgente a mais ampla unidade na luta para derrotarmos Bolsonaro e seu projeto ultraliberal, de ataque aos trabalhadores e trabalhadoras e de entrega do país. Mas para superarmos de vez essa anomalia e a própria crise que a gerou, é importante a unidade da esquerda na construção de um novo projeto político nacional, que tenha a capacidade de mobilizar o povo trabalhador na luta por resolver suas demandas mais urgentes, como leis que regulamentem as novas relações de trabalho que surgem da inevitável quarta revolução industrial. Partindo disso, podemos enfrentar a desindustrialização, o crescente desemprego estrutural e a precarização do trabalho e da vida. É só um exemplo, pois esse programa não pode se ater às questões trabalhistas, pois seria insuficiente para levar a sociedade à busca de transformações mais profundas e permanentes.
Nos dias de hoje, com a monopolização e a globalização cada vez maior da economia, os patrões se organizam em grandes e poderosas corporações internacionais, que controlam todas as instituições estatais, inclusive os governos. Qualquer greve que ameace estourar, ainda na véspera, é considerada ilegal pela Justiça, o governo mobiliza a polícia e a mídia já caí batendo. Ou seja, da forma que estamos organizados, sem liberdade, em sindicatos corporativistas e divididos por categoria, é quase impossível conquistarmos qualquer pequeno avanço, ou mesmo a manutenção dos nossos já parcos direitos.
Então, se quisermos continuar sonhando com dias melhores, com um país economicamente desenvolvido e com justiça social, serão necessários grandes enfrentamentos com a burguesia, onde precisaremos combinar nossas lutas sindicais, políticas e sociais, e envolver todas as frentes possíveis, movimento estudantil, da periferia, movimento feminista, LGBTQIA+, movimento negro, parlamentares e outros. O momento também exige uma radicalidade que até então não nos foi apresentada, nem pelas nossas organizações, nem pelas nossas lideranças políticas.
Enfim, nunca foi fácil para quem precisa trabalhar, mas é com a nossa força coletiva, a mesma força que produz toda a riqueza desse país, e com a mesma criatividade e ousadia que diariamente corremos atrás do nosso sustento, é que vamos superar nossas dificuldades políticas e de organização. E luta que segue!