Opinião

Não tem cabimento a volta às aulas em meio à pandemia

É inconcebível o retorno das aulas presenciais enquanto perdurar o estado de calamidade em saúde, ao mesmo tempo em que reivindicamos medidas para que as mães tenham condições de cuidar dos seus filhos durante a pandemia.

Por Renata de Paula
Pedagoga e pré-candidata a prefeita de Caxias do Sul pelo PSOL

Em meio à crise do capitalismo, a pandemia do Covid-19 serve como uma alavanca para empurrar ainda mais as mulheres para um mercado informal de trabalho, ou simplesmente para fora dele. A suspensões das aulas nas escolas, sem uma política pública adequada, que garanta o direito de fazer uma quarentena, joga a classe trabalhadora a própria sorte, obrigando, principalmente as mulheres (lembrando que dentro da nossa sociedade a responsabilidade com as crianças fica a cargo da mulher), a terem que resolver onde e/ou com quem deixar seus filhos e filhas.

E qual é a solução dessas mulheres com suas crianças? É depender de familiares ou contratar outras mulheres para cuidar, deixar as crianças sozinhas (sim, isso infelizmente é uma realidade), e, em última das hipótese, a deixar o emprego, pois seu salário geralmente é insuficiente para pagar alguém que cuide de sua criança.

A educação infantil, além de cumprir o seu papel pedagógico, também cumpre um papel social, onde a mulher tem a possibilidade de deixar seus filhos e filhas num ambiente regularizado, e portanto mais seguros e assim poder se inserir no mercado de trabalho. As suspensões das aulas presenciais, devido à necessidade de isolamento social, nesse período de pandemia, foi uma das medidas adotadas através dos decretos de cada estado e município.

Essa medida forçou a adoção do EAD (sistema de educação à distância) para aquelas instituições que assim puderam e podem fazer, pois sem uma política publica para garantir esse acesso a todos os estudantes, está fazendo com que o abismo social aumente. Porém, as escolas de educação infantil, que atendem crianças de 0 a 5 anos de idade, são as que mais fazem pressão para voltar as aulas presenciais.

Aqui em Caxias do Sul, o Sinpré (Sindicato das Instituições Pré Escolares Particulares), está fazendo pressão junto ao governo municipal e estadual para que ocorra a reabertura das escolas de educação infantil, e que sejam elas as primeiras a retornarem as atividades, com alegação de que as instituições educacionais particulares estão fechando as portas e as famílias poderão não ter mais para onde retornar quando regularizar a situação de suspensão das aulas.

O probleme é que não levam em consideração a gravidade da pandemia na cidade, que se expressa no número de vagas das UTI’s. Conforme informações do Município de Caxias do Sul <https://covid.caxias.rs.gov.br/>, até o dia 29/08/20 a pediatria tinha 1 vaga pelo SUS e 6 na rede privada. Já a adulta tinha 13 pelo SUS e 20 pela rede privada. Esses dados são relevantes principalmente porque a Secretaria Estadual da Saúde (SES) está alertando a existência da doença chama SIM-P (Síndrome Inflamatória Multissistema), da qual pouco se sabe, mas o tanto que se sabe é que está relacionada ao COVID-19, onde está afetando e levando a óbito crianças e adolescentes.

É importante resgatarmos o exemplo da rede estadual do ensino médio do Amazonas, onde após vinte dias do retorno das aulas presenciais, registra 342 professores infectados com COVID-19, segundo a Fundação de Vigilância de Saúde.

Aqui no Brasil, o governo Bolsonaro tenta convencer a população que a economia vem antes da vida, que esse vírus é só uma “gripezinha” e que a Cloroquina é a solução para os contaminados. E com essa política adotada por ele e seguida na prática pelos governos estaduais e municipais, as curvas de morte e contagio não se alterou, para piorar falta estrutura física, faltam treinamentos, faltam testes, falta segurança e a brincadeira das cores do mapa é uma falta de respeito as vidas.

Por isso tudo nos somamos à denúncia que está sendo feita pelo CPERS-Sindicato , SINDISERV e pelo movimento estudantil, de que é inconcebível o retorno das aulas presenciais enquanto perdurar o estado de calamidade em saúde, ao mesmo tempo em que reivindicamos medidas para que as mães tenham condições de cuidar dos seus filhos durante a pandemia. Nossas vidas importam! Não devemos ter que escolher morrer de fome ou morrer de COVID-19.